“A capacidade de se colocar no lugar do outro é uma das funções mais importantes da inteligência. Demonstra o grau de maturidade do ser humano.” (Augusto Cury)
Nas águas salgadas do município de Laguna, ao sul do estado de Santa Catarina, os pescadores esperam a hora certa para lançar suas redes, mas há mais de 120 anos quem coopera com esta pesca são os golfinhos que vivem naquela região. Eles cercam os peixes das águas profundas e turvas, onde os pescadores não podem enxergar, e emitem o sinal pulando o mais alto possível, então é chegada a hora de jogar a rede.
Milhares de tainhas estão ali à disposição dos pescadores por meio da ajuda oferecida por Scoob, Chiclete, Princesa e Figueiredo, alguns dos amigos golfinhos que carinhosamente receberam esses nomes. Eles vão então direcionando os cardumes até os pescadores e, quando as redes são recolhidas, os benefícios do trabalho em equipe se revelam.
E por que esse tipo de cooperação começou a acontecer naquele local? Como é possível explicar esse fenômeno por meio de uma interação tão significava entre humanos e animais? Será que o fato dos golfinhos serem uma das espécies consideradas mais inteligentes é a resposta para essas perguntas?
Frans de Waal, em seu livro chamado A Era da Empatia, afirma que os animais também nascem com a capacidade de ser empáticos, mas o quanto essa habilidade irá se desenvolver no dia a dia depende da interação de cada um deles com o contexto em que vivem. E, para nós, seres humanos, será que funciona da mesma forma?
Ao longo deste artigo quero convidar você a explorar comigo a resposta para a pergunta do título. Afinal, empatia é algo que já nasce com a gente ou que construímos?
Aprendendo a empatia
Vamos olhar para nossa capacidade de inteligência. Howard Gardner afirma que um único indivíduo pode ter diversas inteligências, o que ele chama de inteligências múltiplas, e que cada um de nós pode desenvolver vários tipos de inteligências ao longo de sua vida.
Estudos revelam que quando falamos sobre inteligência emocional não é diferente. De acordo com Daniel Goleman, grande estudioso da área, podemos sim aprender habilidades e competências emocionais e, por meio da nossa capacidade cognitiva e afetiva, podemos também construir uma trajetória para o desenvolvimento da empatia.
Nos Encontros da Família, promovidos pela Escola da Inteligência, falamos para milhares de famílias que seus filhos estão percorrendo um caminho seguro para aprender e desenvolver de fato essas competências, e o quão importante é contar com esse ensino e aprendizado no ambiente familiar.
Vamos refletir: quantos pais, mães e responsáveis são verdadeiramente empáticos? E como eu posso ensinar meus filhos algo que eu ainda não tenho desenvolvido e praticado no meu dia a dia?
A ciência também explica a empatia
Um caminho importante a ser seguido dentro do desenvolvimento da empatia está dentro da área da Neurociência. Estudos com neuroimagens funcionais indicam que alguns circuitos neuronais, que são ativados quando o sujeito executa uma ação, também são ativados quando ele percebe que outra pessoa realiza essa mesma ação, o que reforça a hipótese acerca da existência de um componente ideomotor na empatia.
O que isso significa? Que nossas respostas empáticas podem ser ações involuntárias e inconscientes, ou seja, nascemos com essa capacidade.
Na Psicologia, existem algumas principais correntes de pensamento sobre a empatia, uma delas afirma que ela se refere a um traço da personalidade no qual a pessoa possui a habilidade de reconhecer os estados mentais de outras pessoas, bem como observar quais emoções essas pessoas estão sentindo.
Neste caso, supõe-se que:
“alguns indivíduos são mais empáticos do que outros, seja por sua natureza, ou seja pelo seu desenvolvimento.” (Duan & Hill)
Outra perspectiva dentro da Psicologia é que a empatia é vista como um conjunto de respostas afetivas-cognitivas, ou seja, acontece em situações específicas onde o nível de empatia varia de momento para momento. Nesse sentido, afirma-se que existem estímulos externos e internos que fazem o indivíduo aprimorar essa habilidade.
O que a prática da empatia ensina?
Dentre os conceitos e pesquisas no campo da empatia, muitos elementos complexos ainda precisam ser esclarecidos para que mais famílias possam ter acesso ao caminho do desenvolvimento dessa habilidade durante as fases da educação dos filhos.
Mas há o consenso de que a empatia diz respeito a compreender os sentimentos das outras pessoas e, por consequência, podemos ter as respostas empáticas por meio, por exemplo, do hábito da cooperação, como observamos no fato dos golfinhos em Laguna/SC.
Cooperar e/ou compartilhar seus estados afetivos também são elementos da empatia, e nessa visão, a empatia pode ser uma capacidade desenvolvida ao longo dos anos e que tende a ser refinada à medida que nossos aspectos cognitivos e afetivos evoluem.
Habilidades que constituem o desenvolvimento da empatia como, por exemplo, consciência social, respeito às diferenças, senso de responsabilidade, entre outros, podem ser inseridos no dia a dia das nossas famílias.
Você já perguntou como foi o dia do seu filho hoje? O poder desta prática, mostrará para seu filho como é importante a escuta afetiva e como você se interessa por tudo que ele pratica. E você, família, como foi seu dia hoje?
Caren dos Santos Domingues
Graduada em Psicologia, especialista em Direitos Humanos e Educação Integral, pós-graduanda em Competências Socioemocionais. Atua como Consultora Educacional na Escola da Inteligência.